quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sentimentos de gratidão

Levei certo tempo na vida para entender que a maioria das pessoas sempre nos decepcionam. E quem me fez entender certas coisas, ou que ao menos sempre tenta fazer com que eu entenda, é minha mãe. Não sei se é coincidência pelo Dia das Mães estar chegando, mas ela é a pessoa que, definitivamente, me disse tudo que eu precisava saber a respeito dos seres humanos. 


De todas as inúmeras vezes que cheguei até ela e disse "não sei mais o que fazer", obtive de resposta a mais simples pergunta: o que foi que aconteceu? E lá fui eu contar "tim tim por tim tim" o que tinha acontecido comigo. Alguns relatos foram novidades, outros era como se eu tivesse ligado um gravador e nós estivéssemos escutando uma história antiga.  Chegava a ser engraçado, pois ela só me olhava com a cara de "lá vem tu com esse mesmo assunto".

Lembro-me muito bem de quando eu tinha 8 anos, ela ainda trabalhava na antiga CRT e acordava às 6h30min para poder organizar a casa, arrumar o café-da-manhã e deixar eu e meus irmãos prontos para irmos ao colégio. Era uma rotina, claro, mas era tudo tão bem planejado que poucas vezes chagávamos atrasados ou deixávamos algo para trás. Assim como era nosso começo do dia, ao fim dele meu pai me buscava no colégio, íamos para a casa e ficávamos esperando minha mãe chegar. Minha memória da infância, raramente, funciona, mas sei que ela sempre trazia um churros para cada um dos três filhos.


Hoje, com a idade que tenho, ela, mais do que me deixar pronta para encarar o dia, me entrega toda a sua paciência e conhecimento. Noites atrás, enquanto eu soluçava de chorar, ela me trouxe novas lições. Essa de entender que as pessoas sempre nos decepcionam não foi bem uma lição, mas levou a novas reflexões. Conversamos sobre todas as vezes em que nos perguntamos porque certas coisas acontecem com umas pessoas e não com outras, dialogamos sobre nossas vontades de gritar verdades, sobre tudo o que merecemos e deixamos de merecer. 


Chegamos a várias conclusões juntas. Me pareço com ela mais do que nós mesmas imaginávamos. O que nos faz feliz são coisas tão pequenas, mas tão pequenas, que por muitos momentos demoramos a enxergar. Maduras e com outros pensamentos, sentimos falta dos pequenos "probleminhas" que surgiam há tempos atrás. Hoje, os problemas se tornaram maiores. Sei que um de seus maiores ensinamentos foi me mostrar que as pessoas podem amar sem fazer alguma mínima demonstração. Isso me doeu, acredito que eu ainda não tenha aprendido de verdade, mas, ao menos, sei que esse tipo de amor já passou por mim muitas vezes. 


"Woman I can hardly express
My mixed emotions at my thoughtlessness
After all I'm forever in your debt
And woman I will try to express
My inner feelings and thankfulness..."


Existem muitas músicas que trazem recordações de momentos, palavras e pessoas. O trecho acima é da canção Woman, de John Lennon. Ele traz a recordação de uma fala do meu pai: "um dia, eu e a tua mãe, iremos caminhar no Central Park escutando esta música, de mãos dadas". Para minha mãe, a única mulher que nunca me deixa caminhar sem olhar para frente.

Um comentário:

  1. Muito bonito Ingrid. É muito bom ler gente que escreve de um jeito simples e sincero como tu. Parabéns!

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